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quinta-feira, 11 de dezembro de 2008

Cloverfield (2008)



"Cloverfield" é o nome de código da operação militar que bombardeou Nova Iorque para matar o monstro que atacou a cidade. É também o nome do último filme que deixou muitos espectadores do género de terror presos à cadeira como não acontecia há muitos anos. Por isso é, desde já, um filme a ver urgentemente para quem o perdeu nas salas.
Mas, aviso também, só funciona à primeira. É por isso que vou deixar alguns mistério em torno do enredo e prometo que não saberão como acaba.
Porque o importante aqui não é o monstro. O exército americano a atacar Godzilla já se viu. Também já se viu muito mais cómico ("Independence Day", "Mars Attacks!") e muito mais assustador ("Guerra dos Mundos", com Tom Cruise, 2005). Por isso não há muito a dizer do monstro, nem aqui saberão mais nada excepto que "algo nos encontrou". A verdadeira inteligência do filme está em abandonar o déjà vu e acompanhar de perto o grupo de amigos que, subitamente durante uma festa, se apercebe de que a cidade está a ser atacada. Um deles tem uma câmara digital e é através desta que se vê toda a história.
Já sei o que estão a pensar. Não, não outro "Blair Witch"! Descansai, pois aproveitando o conceito o realizador ultrapassou-o e consegue o que "Blair Witch" prometeu sem cumprir.
O interessante aqui, invulgar num filme do género, é a complicada trama psicológica que leva a dinâmica de um grupo de amigos não a fugir, como seria de esperar, mas a correr de encontro ao monstro. "Porquê?" é a questão, e a questão é que podia acontecer a todos nós nas mesmas circunstâncias. E é mesmo por isso que uma vez embrenhado na história, que só arranca depois de 18 minutos de verdadeira seca (propositada seca, como se percebe depois), só se consegue respirar quando já se pensa numa sequela.
Por falar em sequela, é mais que previsível que seja feita e ainda mais certo que não vai prestar. O filme é empolgante mas não é assim tão bom e não tem raízes sólidas para além do impacto inicial, e vou tentar explicar porquê.
Valerá a pena dizer que este filme nunca teria o mesmo efeito se fosse feito antes de 11 de Setembro de 2001? Não, claro que não teria. O escritor é inteligente até nisto, porque assim que começa a borrasca um dos personagens pergunta "é outro ataque terrorista?!", como para sossegar o espectador que não, não estão a aproveitar o horror verdadeiro para vender o filme e que deixar de fazer filmes de monstros a atacar cidades americanas é mais uma forma de permitir que os terroristas vençam. (É esta a lógica, quer se concorde ou não, e não me vou perder da crítica de cinema para tecer considerações político-sociológicas.)
O próprio realizador não nega que se inspirou no clássico "Godzilla". Até aí nada de mais. As homenagens são bonitas e ficam bem, mas o reverso da medalha é que quanto pior for o efeito mais fraquinha se torna a intenção. Falo em especial da decapitação da estátua da Liberdade. Ora, há muito tempo que os filmes de ficção científica fazem maldades à estátua da Liberdade. Desde o velhinho "O Planeta dos Macacos", em que o lendário Charlton Heston só percebe que está na Terra quando encontra a sua metade superior perdida numa praia qualquer, até ao mais recente "O Dia Depois de Amanhã" em que a estátua é submersa até à cintura pela onda do degelo e seguidamente abandonada ao manto de neve sobre uma civilização agonizante. Ambos são grandes momentos de cinema e mensagens altamente simbólicas, senão mesmo alertas políticos e ambientais. Em "Cloverfield" a decapitação é gratuita. Não se pode dizer que a cena não tenha pés nem cabeça (até tem muita cabeça, se lhe faltam os pés), porque faz sentido no contexto do filme, mas mesmo que a técnica seja perfeita o conteúdo é nulo. Lembra assim, sei lá, de repente, um avião a espetar-se contra um arranha céus sem que ninguém esteja à espera. Lembra assim, sei lá, de repente, capitalizar o medo dos nova iorquinos, americanos e civilização ocidental. (Mas prometi não enveredar por aí!) Acima de tudo, principalmente porque pretende ser uma homenagem, é um momento de bons efeitos especiais e mau cinema. Um momento a evitar quando não se tem um conteúdo à altura, e parece-me os escritores não perceberam que não tinham argumento para tanto esticanço e acabaram por cair na facilidade da "pornografia" simbológica. É por isso que uma sequela se adivinha desde já um desastre.
Vamos lá, o filme até é bom e funciona. Tem base psicológica. Nunca mais se esquece. Dá gozo e isso tudo. Nem sequer usa aqueles sustos habituais. Superou as expectativas. Deu para o que deu. Não dá para mais.

15 em 20.

2 comentários:

ritual noise disse...

Depois desta crítica fiquei mesmo com vontade de ver o filme!

katrina a gotika disse...

Isso era a sério ou era ironia? É que depois de reler o que escrevi acho que deixei as pessoas na dúvida, lol!
Mas a pontuação é mesmo 15 em 20, por isso, apesar das críticas, recomendo vivamente e aos pulos. :D