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domingo, 10 de janeiro de 2010

Amália, o filme (2008)



Aqui está um bom filme, que eu sei que deve agradar a alguns de vós. (Não foi por acaso que escolhi a foto com a linda roupinha que vêem aí em cima...)
Continuo a achar que o melhor elogio que se pode fazer a um filme português é que nem parece português, que me perdoem os fãs das secas intelectuais, e este filme bem o merece. Este é um filme que pode ser visto em Hollywood sem nos embaraçar de todo, embora em termos de técnica ainda não se tenha chegado... "lá". E atenção, que eu não vejo só filmes americanos! Os ingleses já chegaram "lá" há muito tempo e que eu saiba ninguém lhes critica a intelectualidade. As críticas dos *críticos* de cinema portugueses (que pelo que tenho lido trucidam o filme) valem o que valem, verbo de encher certos egos que fazem (faziam) filmes a preto.
Avancemos, e sem preconceitos, que nem sequer é por isso que este filme aqui aparece. De todo!

Confesso desde já que não conheci a verdadeira Amália excepto pela televisão, e já numa fase em que a sua carreira era fortemente vilipendiada. Nesse aspecto o filme acerta em cheio. A "colagem" ao regime salazarista era muito grande, e lamento ter desconhecido tanto a mulher e a artista por ter nascido nessa altura em que "Amália" era um palavrão. Talvez tenha sido uma grande injustiça da História. A política tem destas coisas. Sobre isso também não me posso pronunciar. Sou demasiado nova. Contudo, nunca ouvi dizer mal da pessoa em si, antes pelo contrário, e sempre tive dela uma ideia de velhota simpática.
Aliás, nem sequer é da verdadeira Amália que aqui quero falar. Do que quero falar é da grande personagem criada por este filme, uma personagem, por diferente que seja da realidade, que acaba por valer por si. Compreendo agora a polémica que tenha gerado entre os seus familiares. Palavra de honra, também não gostava de ver exposta a minha intimidade familiar, e se é para ser exposta que o seja o mais fiel à verdade possível. Mas não penso que tenha sido essa a intenção dos autores, de forma alguma. Penso que a intenção, e bem conseguida, foi a de criar uma personagem, uma personagem forte, por quem o público se pode apaixonar, por quem o público pode chorar, uma personagem universal tão reconhecida aqui como na China, que vai para além do que é português, que vai para além das comezinhas vidas de cada um, que é maior do que tudo isso. Digo mesmo mais, um bruto americano (daqueles tão criticados pelos intelectuais portugueses), corre o risco de ver este filme e apaixonar-se por Amália, e resolver até, olhem o espanto, conhecer a sua obra!... Mais palavras para quê? Está tudo dito.
Agora, a parte menos boa. E a parte menos boa é o fim. O fim é "bonitinho". Pois não devia ser. Nem parece um fim dos mesmos autores! O diálogo porventura mais importante de todo o filme é aquele em que um homem diz a Amália algo como: "sabe, as pessoas não compreendem essa sua melancolia, essa permanente tristeza", e ela responde: "é a vida que faz a tristeza". O fim contraria, por razões que não percebo, tudo o que se disse antes. Terá sido um fim encomendado, um final feliz? Terão pensado que assim era giro, e surpreendente?... Não me parece. Afinal, a mulher está morta e tudo. Também não percebi aquela pergunta de retórica no fim: "será que morreu?...", ou algo do género. What the fuck? Bela Lugosi's dead? Agora temos vampiros na Madragoa? Ò senhores, não havia necessidade. Se calhar queriam dizer que Amália era imortal, mas saiu mal.
Não sei exactamente qual foi o papel de cada autor (realizador, escritor, argumentista, produtor?...) na conspiração deste final, mas só transparece uma coisa. Ou foi uma pessoa muito triste a fingir no fim que é alegre (o que é muito triste), ou foi uma pessoa alegre que durante todo o filme se fingiu triste (o que é ainda mais triste). Ou talvez nem tenha sido a mesma pessoa. Se calhar o fim é "a martelo", à boa moda portuguesa do desenrascanço e vinho tinto. Pá, o filme tem que acabar, como é que se acaba esta merda? Sei lá pá, já não temos tempo para mais. Olha, resume tudo num minuto e dá-lhe um fim feliz que a malta até fica de cara à banda!
E estragou. É pena.
Mesmo assim, esqueçam isto tudo, e vejam o filme. Alguns de vós vão gostar, particularmente de algumas cenas, e vão perceber porquê... que eu não digo. É surpresa. Já sabem que o fim não presta, mas ignorem. Vejam o resto que vale a pena.

15 em 20


Original in Gotika

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