Leiria, 27 de Agosto de 2010
ASHRAM
Não é fácil fazer uma crítica a algo excelente sem correr o risco de cruzar a linha da bajulação, mas é facto que os italianos Ashram são compostos por três músicos virtuosos, isso penso que ninguém duvida, que terão feito, a nível pessoal, o melhor concerto do fim-de-semana.
Pouco depois das 21h30 entram Alfredo Notarloberti e Luigi Rubino em palco, os primeiros acordes alimentam a alma em jeito de aperitivo para o manjar que por aí vinha.
Ao longo de pouco mais que uma hora, um violino, um piano e a voz do peculiar Sérgio Panarella, levaram-nos pela melancolia dos dois álbuns do grupo. A postura e voz emotiva de Panarella, fez do concerto uma luta constante com a emoção, aqui não se cantou em uníssono nem se perturbou a música, ao invés, o publico permitiu-se apenas intervir quando era a sua vez.
Apesar de alguns problemas pontuais de som que foram sendo resolvidos (de resto, problemas que foram constantes em todos os concertos deste palco), a prestação não foi comprometida.
Houve música, emoção e espaço para tudo: “Melancholic Lisbon” solo de piano de Luigi Rubino inserido em “A Theme for The Moon” (trabalho a solo editado o ano passado) que tem tanto de simples como de belo e um intenso solo de violino de Notarloberti que rivalizou grandemente em erotismo com as letras cantadas por Ordo Rosarius Equilíbrio revelou-se pela reacção do publico como o momento alto da noite.
Em jeito de conclusão, estes italianos fizeram algo que raramente acontece, não só suplantaram o seu anterior concerto, no Santiago Alquimista (primeiro em terras lusas), como colocaram a fasquia demasiado alta para quem viesse a seguir neste festival.
ATARAXIA
Com 20 trabalhos originais editados, os Ataraxia poderiam muito bem ter feito o festival sozinhos. São conhecidos por incluir no seu registo neo-clássico influências de todo o mundo, criando em cada trabalho uma narrativa de viagem, uma história, por onde somos guiados pela voz de Francesca Nicoli.
A voz de Francesca é realmente magnífica (rivalizando em amplitude vocal com Chloé Saint-Liphard, que veríamos no dia seguinte) e estes músicos, à semelhança dos Ashram, são também excepcionais, mas senti falta de algo neste concerto dos Ataraxia: do risco. Estávamos perante músicos profissionais e foi como eles se comportaram ao assumir apenas um set seguro, sem surpresas.
O set optado, que não deu grande protagonismo ao último álbum Llyr, teve como consequência raras variações de ritmo ao longo do alinhamento, talvez devido a ausências em palco, mas ainda assim o que nos foi dado a ouvir, demonstrou aquilo que os Ataraxia fazem melhor: a ligação do etéreo com a terra, o poder e intensidade da voz suavizado pelo instrumental delicado. “Gayatri Mantra” foi talvez a musica que mais me marcou neste concerto.
Como dizia alguém, eles não conseguem tocar mal mesmo que queiram e de facto é verdade, no entanto, os Ashram foram excelentes os Ataraxia “apenas” muito bons.
PROJECT PITCHFORK
Quem acompanha o pórtico já sabe que os meus gostos pessoais não me colocam na melhor posição para fazer analises a música electrónica, ou a musica é de facto excelente ou então não consigo perceber as diferenças. Todos nós temos um ponto fraco, eis um dos meus.
Assim, foi após pouco mais de meia hora do concerto de Project Pitchfork que decidimos abandonar o recinto.
Esperava, após algumas leituras que antecederam o festival, que ao vivo fossem bem mais roqueiros, mas não o foram. A julgar pela reacção do público, creio que fizeram uma boa prestação.
Comprovou-se ao vivo o que disse anteriormente a propósito do álbum "Continnum Ride", depois de ouvir “Endless Infinity” (haverá algum que acabe?!), não consegui evitar que o refrão se colasse ao cérebro e permanecesse aí como um intruso de que não nos conseguimos livrar. Ao aperceber-me que com isto perdia algumas memórias dos dois primeiros concertos decidi afastar-me dali, afinal, ninguém gosta de perder a Alma…
Fotografias e vídeos feitos a meias pela Isabel e por mim.
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