O projecto era ambicioso, mesmo tendo em conta que por trás estava a Fade In cuja qualidade na organização e escolha de eventos tem sido comprovada e reconhecida ao longo dos dez anos de existencia, ainda assim um concerto é uma coisa, um festival outra e ainda outra é o primeiro festival gótico do país. Reconhecida para já, nesta crónica, fica a coragem da associação em assumir tal projecto.
Chegados a Leiria no dia 27 à tarde, primeiro dia de festival, alguns sinais faziam-se notar na cidade, desde logo o gigantesco e controverso cartaz na fachada do castelo, algumas bandeiras pelas praças da cidade e cartazes colados em montras, contribuiam para um aumento de ansiedade e com ela, as expectativas. Após um breve descanso, fizemo-nos ao caminho para uma volta de reconhecimento ao espaço.
O Espaço
O castelo de Leiria, já conhecido de outras “árvores”, é sem duvida imponente e o seu bom estado de conservação fazia-o prever como o sitio ideal para este festival. Pelas 18:30 cruzávamos a entrada, após uma decisão consciente de que abriríamos mão das curtas.
O palco Corpo, logo em frente, exibia orgulhosamente um espaço suficiente para albergar confortavelmente as 700 almas (limite de publico imposto pela organização, facto que desde logo permite perceber o bom senso reinante), embora o palco fosse a estrutura mais imponente na área, o porco no espeto pareceu-me a estrela (assim que o vi os meus olhos nunca mais o largaram... Hipnotizante o bicho, sempre às voltas...), ladeado pelas restantes bancas de comida e bebidas. Aqui, uma pequena nota, embora se perceba a separação entre a zona de pagamento e a de serviço, faltaram no inicio alguns avisos sobre a logistica da coisa, a exemplo: que não seria boa ideia poupar o tempo da primeira fila comprando desde logo as 50 senhas de cerveja para o fim de semana, já que estas apenas serviam para o próprio dia. Para alguns, o aviso chegou tarde demais.
Iniciando a subida rumo à zona de conferências e exposição, passando pela área das casas de banho (mais uma ou duas junto ao outro palco não teria sido má ideia) e seguindo pelo caminho mais directo que apenas estava acessível, pelo que percebi, durante o horário das mesmas, chegámos à área menos bonita do castelo, uma zona reconstruída recentemente em que o contemporâneo entrou sem “pés de lã”. Um pouco mais à frente, mais recolhido, mais intimista, estava o Palco Alma, cuja área deixou algumas das pessoas com uma visão deficiente dos concertos mas ainda assim, e tendo em conta que o espaço não foi feito para isto, parece-me que a organização pensou bem os locais dos concertos, tendo apenas notado escassez em caixotes do lixo junto à muralha, não incomodava muito e sempre eram menos copos no chão.
De volta ao caminho e tal como o porco que dava voltas no espeto assim nós completámos a nossa, descendo em direcção à zona comercial das roupas, merchandising das bandas, musica, livros e adereços, apenas senti falta de umas bancas de música em segunda mão, mas a Fnac e as bandas eram capaz de não achar piada. ;)
A volta completa-se e a partir da hora dos concertos não haveria, ao contrário do porco, mais voltas a dar, o caminho passava a ser só um, eficaz a nível de organização.
As conferências e a Exposição
Os títulos são sempre uma faca de dois gumes, por um lado pretendem reflectir o que se quer mostrar, mas por outro, aumentam demasiado a expectativa de quem vai assistir, isto foi, a meu ver, o que se passou nas conferências.
Mas primeiro a exposição de Alexandre Estrela, facto é que o trabalho se insere no imaginário gótico e que as obras têm qualidade, mas esperei sinceramente ser surpreendido, não pelo titulo da exposição mas pelo tópico da conferência, confesso que esperava ver uma exposição que invadisse as margens e nos mostrasse algo novo, tal não foi o caso.
Em ambos os dias de conferências não ouvimos nem margens nem rupturas, exceptuando talvez a referência pelo arquitecto urbanista Pedro Trindade Ferreira em relação à irresponsábilidade na recuperação da zona do castelo onde nos encontrávamos e a do arquitecto Miguel Figueira, no segundo dia, sobre o centro histórico de Montemor-o-velho. Mesmo assim, o discurso geral dos intervenientes, que contavam com a participação de Fernando Ribeiro e Adolfo Luxuria Canibal, não passou de apresentações e comentários breves, que por falta de tempo ou pertinência, não abriram espaço à discussão. Em jeito de sugestão, fica a ideia de para a próxima as fazerem mais cedo e até fora do recinto, abrindo esta parte do festival à cidade e à população “sem bilhete” que possa estar interessada e talvez assim, os objectivos sugeridos no tema sejam mais facilmente abordados. Mas não nos podemos esquecer que o festival é de música e como tal, todas as actividades extras, embora necessárias e bem introduzidas no evento, não devem comprometer os concertos, tal como aconteceu com os Uxu Kallus no Sábado.
Em jeito de conclusão, tirando pequenas notas cuja importância é relativa, a organização esteve muito bem e diria que não houve uma alma que tenha saído insatisfeita deste fim de semana.
Fotografias tiradas a meias pela Isabel e por mim.