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terça-feira, 9 de agosto de 2011

Crónica dum fim-de-semana Entremuralhas - 29 de Julho de 2011


Pela segunda vez entremuralhas e tanto o castelo como a cidade de Leiria se tornam familiares. É impossível deixar de se sentir bem acolhido nesta cidade quando a Sra. da residencial nos reconhece à chegada.
Apesar de ser uma cidade relativamente pequena há sempre coisas a descobrir. O fim-de-semana deste evento vai sempre além dos concertos. Desta vez, deixo uma nota para exposição colectiva "Nada em comum". Formalmente heterogénea, como o nome indica, mas coerente na vontade de experimentação quer nos médios usados quer na forma como se apresentam instalados. Uma boa mostra de exemplos do que ultimamente se tem feito em arte contemporânea em Portugal, onde artistas jovens e consagrados se apresentam lado a lado sem se ofuscarem ou anularem entre si.

A inevitabilidade de comparação entre a primeira edição e a presente leva-me a ter de referir que este ano a organização se superou, quer em quantidade quer em qualidade no cartaz. Apesar deste ter sido divulgado antes da situação económica se fazer sentir de forma tão adversa, acrescentar mais um dia ao certame foi assumir um risco que o publico agradeceu, tal como agradeceu o aproveitamento doutros locais do castelo, as ruinas da Igreja de Nossa Sra. da Pena para concertos e o recato do lugar das projecções de filmes mudos. Resta repetir os parabéns à Fade In.
O ambiente do festival equiparou-se ao ano passado no melhor dos sentidos: foi povoado de pessoas respeitadoras, dos outros e dos espaços históricos onde nos encontrávamos.
Talvez devido à escassez de eventos do género, o Entemuralhas já criou raízes entre a comunidade alternativa/gótica, não só portuguesa - não se estranhou e facilmente se entranhou!

Assim, o primeiro dia reservava ao público presente uma conferência de Pedro Ortega, historiador de arte e curador da semana gótica de Madrid, numa dissertação curiosa e bastante interessante sobre a relação e presença do Absinto nas mais variadas formas de arte, e claro está, no movimento gótico. Gostaria de ter visto mais e melhores exemplos de obras de arte que, quer na forma quer na interpretação, poderiam ser relacionados com o imaginário gótico, aquando da introdução ao género, mas tal facto também se desculpa pelo ambiente mais descontraído de um festival e pelo facto de neste contexto nunca se saber muito bem que publico estará a assistir. Ainda assim Ortega tornou o assunto interessante e a assistência embora escassa, talvez por ser o primeiro dia e a maior parte ainda estar a chegar à cidade, não arredou pé.
Lado a lado com o absinto estava a exposição "Entremundos" de Sílvia Patrício, que nos apresentou duas mostras do seu trabalho, que ainda pode ser visto até ao fim deste mês. É um trabalho marcadamente narrativo, que parte dum imaginário infantil mas que apresenta questões que apenas um adulto poderia propor, por aqui, lembram-me alguns trabalhos de Paula Rego. As telas da primeira sala são as mais recentes e foram feitas especialmente para este evento, as composições incluem alguns membros da Fade In em situações oníricas e marcadamente mais negras. Deixo o destaque para esta sala, já que ilustra uma familiaridade e uma sintonia de esforços com que estes eventos são feitos. A segunda sala apresenta trabalhos mais antigos que ajudam bastante a compreender o trabalho desta artista, de uma forma mais global.

Com os neurónios devidamente saciados, restava a alma e o corpo. Rumei à Igreja da Pena, onde cheguei já com a actuação das Ignis Fatuus Luna a meio.
O facto de não ver a actuação desde o início fez com que perdesse alguma possível narrativa que a actuação tivesse, por isso não me irei alongar em considerações e apenas dizer que acabei por considerar o que vi, uma mostra da excelente capacidade de execução das artistas – terei que aguardar uma próxima actuação para poder tecer alguma consideração de forma mais justa.

Algum tempo depois, após o ritual do porco e de sangria na mão, esperava os concertos que me iriam aquecer e fazer esquecer a falta de um casaco.

Irfan, Palco Alma



Apresentados como excelentes representantes do género e génio musical de que os Dead Can Dance são, em minha opinião, o expoente máximo, os búlgaros Irfan tinham a pesada tarefa de fazer corresponder em palco os adjectivos utilizados para os descrever.
Ao longo de uma hora, Kalin Yordanov, Denitza Seraphinova e companhia levaram-nos pela mitologia Balcã, ventos e sons de uma outra Europa, tantas vezes distante. A voz límpida de Denitza, misteriosa e feminina, foi muito bem complementada pela voz grave de Kalin, que além de bom músico se mostrou um excelente comunicador ao partilhar connosco, nas introduções às músicas, um pouco das histórias que servem de inspiração às mesmas – um pouco de "conhecimento" que, de resto, é o significado de Irfan em Árabe.
Do alinhamento destaco "Hagia Sophia", "In The Gardens of Amida", "Oktrovenie" e "Svatba" (Cover dos Dead Can Dance), porque parecia mal destacar todas e em jeito de conclusão, digo que a comparação com os Dead Can Dance é merecida, a versão supracitada com que encerraram o concerto foi divinal, mas estes búlgaros mostraram saber distanciar-se o suficiente para encontrarem um lugar próprio, algures entre o folclore balcã e o resto do mundo.



Sol Invictus, Palco Alma



Um dos nomes que mais me entusiasmaram quando o cartaz foi anunciado preparava-se para subir ao palco e, lentamente vinha-me à memória que na edição anterior os nomes mais conhecidos do Palco Alma não conseguiram suplantar a qualidade, em concerto, dos antecessores. Foi assim, com este misto de ansiedade e receio que vi o grande Tony Wakeford subir de bengala ao palco, sentar-se e armar-se de viola em punho.
Os Sol Invictus são enormes, na qualidade musical e na extensa lista de álbuns editados ao longo dos 24 anos de carreira, que Tony frisou algures durante o concerto, tem muito poucas "manchas", mas ainda assim em palco algo não correu tão bem. Os constantes pedidos de ajustes para a mesa de som, feitos via microfone, contribuíram para que o concerto se tornasse algo monótono, as referidas perdas de tempo entre músicas levou, também a que determinados pormenores ganhassem importância que normalmente não teriam, como seja o facto de quase todo o alinhamento terminar em crescente.
Ainda assim Tony e companhia ofereceram um alinhamento bem escolhido em que "English Garden", "Believe Me", "Angels Fall" e "We Are The Dead Men" saciaram em parte a expectativa e compensaram de alguma forma a falta de ritmo exibida em palco.




Nitzer Ebb, Palco Corpo



Como já referi, o EBM não está, de todo, entre as minhas preferências, mas ainda assim estes britânicos sempre me picaram um pouco a curiosidade. Chamaram-me a atenção pelas digressões com os Depeche Mode e os trabalhos de estúdio ainda fazem, esporadicamente, parte das minhas audições. Foi assim, entre o expectante e o renitente e ao sabor dum rissol de leitão, que me deixei ficar até à hora do concerto no palco corpo, dar-lhes-ia a hipótese que julgava merecida.
Os Nitzer Ebb apresentaram-se em palco, aos meus olhos, de forma algo leviana e convicta de quem tinha o público nas mãos, pelo menos foi essa a sensação com que fiquei. A performance em palco conferiu às letras, um triunfo fátuo que resvalou em pobreza de ideias – não gostei desta actuação. Fiquei cerca de meia hora, durante a qual não descortinei uma entrega do público, após a qual me retirei do recinto ainda preenchido pelos Sol Invictus, mas principalmente pelos Irfan.


Um agradecimento especial à Isabel pela ajuda prestada e pelas fotografias.

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