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quarta-feira, 10 de agosto de 2011

Crónica dum fim-de-semana Entremuralhas - 30 de Julho de 2011

Sábado começou pela hora de almoço e não demorou muito para que a mente se inundasse de expectativa pelo dia que se apresentava, Brainderstorm, Sieben, Rosa Crvx e ESC que substituíram os belgas Suicide Commando após desistência por razões de saúde.

A caminho do castelo, paragem para um café algures na zona histórica – "sem açúcar mas acompanhado por uma brisa", foi o conselho experiente de quem estava atrás do balcão, que segui confiante e obediente, não me arrependi e aconselho vivamente. Envolto na outra "brisa" que já se fazia sentir, a meteorológica, rumei veloz ao castelo, mas acabei por entrar no Passos Novos, repleto de público, atrasado e com a troca de ideias sobre a conferência quase no fim, mas ainda a tempo de assistir à leitura de trechos do livro "Uma casa na escuridão" pelo autor, José Luís Peixoto, muito bem acompanhado pela guitarra do Miguel Nicolau. O tom da sua voz, enquanto relatava o confronto com a morte de um ente belo e querido, soou-me a angústia sarada e foi nessa cadência que me embalei até ao primeiro concerto, já que a curta do filme "barão" do Edgar Pêra montada especialmente para esta mostra havia de ficar para outra altura, problemas técnicos impediam o visionamento – um pequeno percalço que se transformou na oportunidade para os presentes de chegarem a tempo ao início da primeira actuação musical do dia.

Brainderstorm, Igreja de Nossa Sra. Da Pena

As ruínas da Igreja de Nossa Sra. Da Pena revelaram-se, já o havia dito, num cenário perfeito para os concertos mas, acrescento agora, também pequeno demais para albergar todos aqueles que neste dia e no próximo quiseram assistir aos concertos.
Não podiam os leirienses Brainderstorm, querer melhor estreia ao vivo, espaço completamente lotado por um público que não regateou aplausos e algum carinho a uma actuação, por vezes excessivamente performativa mas musicalmente competente e bastante interessante.



Com a moral em alta pela anterior revelação havia que preparar o estômago para a seguinte e foi aqui, enquanto esperava, que vi pela primeira vez um elemento da segurança em acção: com todo o cuidado, expulsava um elemento que decerto se havia infiltrado no espaço sem bilhete, ao colo. É de ressalvar quando num festival a preocupação da segurança vai para animais de quatro patas.


Sieben, Palco Alma



Assim e de regresso ao palco Alma, escolhi o lugar que achei ideal para assistir ao concerto, que tinha anteriormente apostado como a surpresa do festival.
Sieben, projecto de Matt Howden, apesar de não ser novidade em palcos lusos era uma estreia para mim. Sendo aparentemente, o artista de cartaz mais fora de cena, assumiu o facto como um incentivo e brindou o público com um dos mais memoráveis concertos deste fim-de-semana.
Ao longo da actuação, Sieben, sempre bem-disposto, irrequieto e arco em riste, mostrou-nos o processo de construção duma canção com recurso apenas a um violino, pedal de loop e uma destreza incomum. Do todo, destaco canções como "We Wait for Them", "Ogham Inside the Night" ou mesmo "Build You a Song" que davam tom a uma melancolia sempre presente, no entanto, seria a impressionante cover de "Transmission" dos Joy Division que roubaria a grande ovação da noite. O artista menos consensual do cartaz acabava de dar um excelente concerto que foi de facto surpreendente. Mas era na banda seguinte que depositava todas as espectativas e esperava que consagrasse tudo o que eu imaginara deles. Assim, qual groupie, mantive-me no mesmo lugar enquanto os aguardava.





Rosa Crvx, Palco Alma


Absolutamente ritualistas: uma dançarina à boca de palco fazia a introdução com os sons que o movimento do seu corpo produzia através de um mecanismo chamado Conselho de estudos (Planches d’études) e um a um, cada elemento dos Rosa Crvx entrava em palco dando um início faseado a "Adorasti" que, já com Olivier Tarabot em palco, tomava finalmente corpo e abria a porta a cerca de uma hora e meia de intensos rituais negros.
Oriundos de Rouen, estes franceses são conhecidos por um sentido performativo/ritualista bastante forte e também por um número vasto de máquinas que trazem à memória o imaginário de Leonardo Da Vinci, no palco encontrava-se uma bateria automática (BAM - Batterie automate midi) no lado oposto a um impressionante carrilhão de sinos.
Durante o alinhamento, "Invocation" com duas dançarinas no meio do público a movimentar coordenadamente duas bandeiras e a intensa "Eli-Elo" acompanhada pela já famosa Dança da terra, fizeram as delícias dos presentes, mas pérolas como "Omnis qui Descendunt", "Helhel" e "Morituri" acompanhada pela projecção de parte da performance da Gaiola deixaram-me com a sensação que estava a presenciar um concerto daquele que será, provavelmente, o grupo de artistas que melhor representa o género musical gótico e seguramente o melhor grupo gótico francês da actualidade.
O concerto acabava intenso, como os concertos devem ser, com a referida "Eli-Elo (Danse de la Terre)", sem direito a encore, mas percebe-se: um concerto de Rosa Crvx tem uma solenidade, passo a comparação, duma missa e não há memória de alguém pedir um encore a um padre.





Eden Synthetic Corps, Palco Corpo

A desistência dos Suicide Commando, já referida no início desta crónica deu, aos Eden Synthetic Corps, a hipótese de serem cabeças de cartaz e estes agarraram-na. O género musical manteve-se, o Electro-industrial destilado pelos belgas é a inspiração dos ESC, por isso a intenção de conscientemente rumar à residencial, mesmo sabendo que tal facto implicava colocar em risco a ida à after party no Beat Club, foi assumida. Deste concerto, e das três músicas que presenciei, resta-me dizer que os ESC pareceram-me muito bem em palco e a julgar pelo público a ter uma boa receptividade.

A meio caminho, há que referir, ainda consegui trocar uns miados com o sujeito de quatro patas expulso anteriormente do castelo. Mostrou-se muito afável e nada ressentido com a atitude do segurança.


Um agradecimento especial à Isabel pela ajuda prestada e pelas fotografias.

1 comentário:

katrina a gotika disse...

O segurança expulsou o gato?! o_O