À medida que o festival se aproximava do fim, os dias começaram cada vez mais tarde, havia porém uma missão a cumprir antes da ultima subida ao castelo: reencontrar a esplanada junto ao lis onde no ano passado bebi um copo simpático ao som dos Joy Division. Após algumas voltas e um merecido café duplo, lá encontramos o ex-libris rock, à beira lis cujas mesas ostentavam capas de álbuns como "Rocket to Russia" dos Ramones, ou "White Light/White Heat" dos Velvet Underground. A banda sonora este ano não esteve tão bem e foi ao som de Doors que pedi: "Olá, boa tarde, uma imperial se faz favor."
Repostos os líquidos e atenuado o cansaço que se foi acumulando nestes dias, enceto o caminho de regresso ao castelo e a um alinhamento que deixava a sensação de preparar o publico para um encerramento explosivo. O dia começou nos Passos Novos com a apresentação do Vol.II da BD"As Incriveis Aventuras de Dog Mendonça e Pizza Boy" por um desajeitado mas bastante simpático Filipe Melo.
Posto isto era tempo de ver "William S. Burroughs: A Man Within", documentário sobre a vida de William S. Burroughs, através de imagens raras na sua maioria de produção amadora que Yoni Leyser foi colectando. Do filme fica, mais uma versão da sua vida, vivida fora dos cânones ditos normais e a impressão desconfortável da utilização da imagem do Sr. como meio de promoção: a certa altura fica-se com a ideia que bandas que queriam ser bandas deviam ser vistas com ele. Estranhos os caminhos da fama, menos estranhas seriam no entanto, as palavras ditas após o filme pelo realizador, que após os agradecimentos e a referência à edição portuguesa do DVD pela Fade In, bastante simpático e comunicativo o apresentou de uma forma muito geral e sem grandes pormenores. Aproveito este ponto para reflectir um pouco sobre as conferências, embora mais interessantes que o ano passado, poderiam ainda assim ter ganho mais não fosse o receio, pelo menos aparente, dos oradores em versar sobre os aspectos mais técnicos do trabalho que apresentam e não esperarem pelas perguntas mais técnicas como foi o caso de Yoni Leyser.
Narsilion, Igreja de Nossa Sra. Da Pena
Terminada que estava a conferência, mais uma vez o destino era A Igreja da Nossa Sra. Da Pena, cheguei já com o espaço lotado de publico para ver e ouvir os catalães Narsilion.
De sonoridades neoclássicas e inspiração medieval, Lady Nott e Sathorys Elenorth recriaram sonoramente um ambiente de leveza e levaram a assistência numa viagem por territórios luminosos em rituais pagãos. Canções como "En La Memoria del Vent" e "The Voice of Sin" destacaram-se das demais. De referir também, a presença de dois membros que haviam estado em palco no primeiro dia com os Sol Invictus e Cecília Bjargo que haveria de reaparecer no concerto dos Arcana, esta promiscuidade cooperante que seria mais tarde revista aquando do concerto dos suecos, também se revela interessante e neste caso trouxe mais poder à actuação destes espanhóis.
Trobar de Morte, Palco Alma
Se os Narsilion nos deixaram num qualquer lugar luminoso, cabia aos Trobar de Morte, recomeçar o caminho de regresso às trevas e assim, morosamente como a luz do dia que entretanto desaparecia, revisitaram os trabalhos editados escolhendo um alinhamento em que "Los Duendes del Reloj" e "Aqualuna" se destacaram tanto pela melodia em si como pela bela voz de Lady Morte. Musicalmente fortes e com uma presença interessante em palco aqueceram e bem o publico.
Arcana, Palco Alma
Foi com agrado que vi subir Peter Bjargo ao palco, os Arcana são talvez a primeira ou uma das primeiras bandas neoclássicas que aprendi a gostar, a voz grave e ponderada do vocalista e a forte e educada voz de Ann-Mary abriram as portas da alma às trevas com "The Chant of the Awakening" para que ao longo do alinhamento fossemos encantados pelas melodias e voz de sereia. Acompanhados em palco pelos membros dos Narsilion e com a simpática Cecília Bjargo como segunda voz, desfilaram o frio sueco em melodias negras tão negras que se deveriam ouvir de olhos fechados, não fosse o caso de estarmos a presenciar um concerto único, estreia em terras lusas.
Do alinhamento os meus ouvidos agradecem profundamente "Like Statues in the Garden of Dreaming". Destaco também a inclusão de duas musicas do projecto a solo de Peter Bjargo.
Diary of Dreams, Palco Corpo
De alma saciada e com o negrume a pairar, no peito já se sentia um aperto, símbolo de um qualquer sentimento de antecipação de fim e que fim nos estava reservado.
Apesar de esta ser a quarta actuação da banda em Portugal, era para mim uma estreia e uma estreia que ansiava.
A voz particular de Adrian Hates na musica dos Diary of Dreams é, não é novidade para ninguém, ideal ao vivo, de timbre peculiar a fazer lembrar de quando em vez a de Eldricht e aliada ao forte componente de baixo e às guitarras a arranhar tornou este concerto na melhor despedida possível do festival.
No meio do Setlist não faltaram "Wedding", "King of Nowhere", "She and Her Darkness", e um "Traumtanzer" em encore a acompanhar já a descida do castelo, fez com que, no peito, se formasse um buraquinho que se irá alimentar durante um ano de todas as expectativas em relação ao próximo festival.
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