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quinta-feira, 2 de outubro de 2008

"O Retrato de Dorian Gray" (The Picture of Dorian Gray), de Oscar Wilde

A história é sobejamente conhecida. Dorian Gray foi até incluído como personagem do filme "Liga de Cavalheiros Extraordinários", interpretado por não outro que que Stuart Towsend, o Lestat de "A Rainha dos Vampiros" (e não lhe correu nada mal). A história de Dorian Gray é tão interessante pela acérrima crítica social às elites da burguesia e nobreza inglesas do século XIX (com uma ironia, direi mesmo sarcasmo, e sentido de humor que me faz lembrar o muito nosso Eça de Queirós, e cujas citações mais assombrosas publiquei aqui no último mês), como pelo elemento sobrenatural que rege toda a história (e por elementos sobrenaturais os nossos escritores nunca se interessaram, o que é uma pena).
Dorian Gray é um rapaz oco, fútil e vazio. Acima de tudo, influenciável pelo intelecto superior e hedonista de Lord Henry, seu amigo, que o convence da sua beleza e da sua importância e o torna não apenas vaidoso como, ao longo da sua vida, cada vez mais perverso e insensível ao sofrimento dos outros. Lord Henry, neste livro, funciona como o Diabo, o tentador, que incute no jovem o valor verdadeiramente satânico do culto da invidualidade e do prazer, mas sempre através de subtis sugestões e filosofias, sem nunca poder ser acusado pelos crimes que, debaixo da sua influência, Gray acaba por cometer sem um pingo de remorso, incluindo o assassínio a sangue frio de um dos seus melhores amigos. Poder-se-à perguntar se o jovem Dorian Gray, antes de cair nas "garras" do seu luciferino mentor, era efectivamente tão oco e fútil como fazia crer, ou se havia já nele a semente ruim da maldade só à espera de um jardineiro que a fizesse florescer em frutos do Mal. Esta é uma das muitas interrogações morais que Oscar Wilde vai colocando ao longo da obra, cuja grande metáfora é o retrato, um retrato verdadeiro, não simbólico, do jovem Dorian Gray, onde por magia se projecta toda a maldade de Dorian enquanto este permanece belo e jovem para sempre. Uma espécie de pacto com o diabo sem que o diabo seja necessário.
Na sua grande inteligência, o que Oscar Wilde faz é desmascarar todos os outros "retratos escondidos" atrás da hipocrisia de uma sociedade em que a imagem vale mais do que o Ser.
Nunca uma obra foi tão actual.

2 comentários:

Blood Tears disse...

Dorian Gray é o espelho de parte da sociedade....

Excelente escolha

Anónimo disse...

Mais um oco comentário, um espectro.
Deveriam existir restrições aos comentários sobre literatura ou de outra qualquer índole. Recomendam-se literaturas várias que influenciam a escrita da obra, assim como factores de relevo.
Enumerando:
a teoria de Rousseau, o bom selvagem ( O homem é naturalmente bom, e a sociedade corrompe-o, e não as lamechiches sobre o intelecto de D. Gray, que soa muito mal)

A introdução do simbolismo na Europa, e muito em voga, a temática da água enquanto paralisação do tempo. Recomenda-se a Clepsydra de Pessanha, prefácio de Oaristos, e os jornais que grassavam a europa entre 1888 e 1890.

o mito de Fausto -

Adónis -

personalidade de O Wilde e Lord Henry como alter ego do mesmo