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domingo, 28 de setembro de 2008

"Os Paraísos Artificiais", por Charles Baudelaire

O que me leva a ler de novo "Os Paraísos Artificiais", de Charles Baudelaire, um tratado sobre o haxixe e o ópio, tanto anos depois de o ter lido sem ficar invulgarmente impressionada? Se calhar a mesma razão que me levou a comprar o livrinho: o desejo de conhecer um paraíso artificial. Duvido mesmo, quando o adquiri, que soubesse que tratava de drogas. Talvez tenha ficado até algo desapontada. Talvez estivesse à espera de uma experiência mística. Um outro tipo de paraíso artificial que vim mais tarde a encontrar numa outra embriaguez que é a Fé.
Mas não recuso que as drogas e as suas promessas sempre exerceram em mim um fascínio tão sobrenatural que parecia conhecê-las já antes de as saber nomear. Muitas bandas góticas se debruçaram também sobre o tema (os Sisters of Mercy em especial), com o mesmo fascínio pelo escapismo fácil destes "paraísos" que não existem sem um respectivo "inferno".
De modo que chego à mesma conclusão que Baudelaire exalta no fim do livro, e que fica aqui para nunca me esquecer, mesmo que o livro acabe por desaparecer da minha colecção:

EMBRIAGAI-VOS

Deve-se estar sempre embriagado. Nada mais conta. Para não sentir o horrível fardo do Tempo que esmaga os vossos ombros e vos faz pender para a terra, deveis embriagar-vos sem tréguas.
Mas de quê? De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha. Mas embriagai-vos.
E se algumas vezes, nos degraus de um palácio, na erva verde de uma vala, na solidão baça do vosso quarto, acordais, já diminuída ou desaparecida a embriaguez, perguntai ao vento, à vaga, à estrela, à ave, ao relógio, a tudo o que foge, a tudo o que geme, a tudo o que rola, a tudo o que canta, a tudo o que fala, perguntai que horas são; e o vento, a vaga, a estrela, a ave, o relógio, vos responderão: "São horas de vos embriagardes! Para não serdes os escravos martirizados do Tempo, embriagai-vos sem cessar! De vinho, de poesia ou de virtude, à vossa escolha."

Nota curiosa: Para os capítulos sobre o ópio, Baudelaire analisa as confissões de outro autor, Thomas de Quincey ("Confessions of an English Opium Eater"). Thomas de Quincey é também o escritor do livro "Do assassínio como uma das belas artes", uma prosa sarcástica e cheia de humor negro cuja leitura também aconselho.

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